domingo, 21 de outubro de 2012

Tangenciando o psicossocial em Avenida Brasil


Enfim na sexta-feira o último capítulo da tão adorada novela das 21h foi ao ar. Para alegria de uns, para tristeza de outros... Alegria de quem tanto detestava os comentários que dominavam as redes sociais, e tristeza de quem irá sentir saudade por ter se afeiçoado à trama. Gostos à parte, Avenida Brasil foi a primeira novela que assisti do início ao fim desde muitos anos... E não me arrependi. Vi na novela uma demonstração de belos valores incutidos ao ser humano, coisas que me fizeram refletir e analisar os aspectos psicológicos e sociais da novela, embora algumas coisas sejam um tanto difíceis de aprovar (como um casamento entre quatro pessoas, porque não creio que alguma mulher se sujeitasse a conviver com outras duas esposas do seu marido sob mesmo teto; e como o casamento de uma mulher com dois homens porque não creio que algum homem fosse adorar dividir a esposa com outro homem - além de ter ficado em aberto se o personagem era apaixonado pela mulher ou pelo outro esposo dela rs). O que mais chocou alguns foi, obviamente, nossa antagonista Carmem Lúcia: desde o primeiro capítulo a moça aprontou, maltratou ora uns, ora outros... E no final obteve a redenção de alguns a quem fez maldades. Muitos afirmaram que a vilã deveria sofrer muito, que perdoá-la por tudo seria um absurdo – mesmo tendo um passado tão cruel. Pois eu realmente gostei muito dessa ideia, por motivos que irei desenrolar aqui.

Carmem Lúcia, uma mulher destemida, cruel e que fazia o que fosse necessário para alcançar seus objetivos: essa era a personalidade que víamos nela. Entretanto, ao mesmo tempo em que era tudo isso, a vilã nutria um real e até exagerado amor pelo filho. Falava mal da família do marido o tempo inteiro, mas nunca havia cogitado realmente a ideia de roubar aquelas pessoas e ir embora com o amante, o que nos faz pensar que ela, no fundo, amava o marido. Talvez não o marido, mas a vida que levava: Carminha só queria ser vista como rainha, como a pessoa admirável que nunca foi de verdade; como sabia que se as pessoas conhecessem seu passado a odiariam, ela escolheu fingir, usar uma máscara diária de mulher pura para não só enganar aos outros, mas para que ela mesma sentisse que era aquilo. A questão é que, por mais ficcional que seja, essas coisas existem mesmo: muitas mulheres casam-se apenas por interesse, isso é inegável; inúmeras pessoas fingem ser o que não são, por não conseguirem aceitar a si mesmas; muitos fazem coisas egoístas, sem se importar com quem está ao redor. É só que além de tudo, nossa personagem carrega consigo uma história de vida bastante cruel e perturbadora. Carmem viu seu pai matar a própria esposa – e sua mãe! – por dinheiro, bem diante de seus olhos inocentes, e em seguida foi friamente atirada num lixo. Sem mãe, sem pai, vivendo com alguém que a detestava por causa do pai... Aprendendo desde tão pequena a sobreviver por conta própria, sem carinho, sem nada. Há indícios ainda de que o pai cruel a molestara, pelo medo demonstrado de Carminha para com ele e pelo fato de ela detestar garotas. Isto é, que motivo uma mulher poderia ter para não gostar de uma filha de sangue, enquanto era capaz de amar um filho homem? Talvez porque ela lhe lembrasse sua enteada, mas não seria suficiente para tanto desprezo; o mais provável é que a pequena Ágata lembrasse-lhe sua infância e o quanto sofreu enquanto menina, sendo abusada pelo próprio pai... Desenvolvendo nojo, trauma.

 Imagine tudo isso na cabeça de uma menininha, de uma pessoa sem qualquer personalidade formada ainda, frágil como um cristal... Que tipo de criança cresceria sem uma sequela, ao menos? Ninguém pode negar a veracidade de tudo isso, afinal infelizmente coisas assim são cada vez mais comuns! Pais abusando dos filhos, jogando-os fora como se fossem simples objetos, matando cônjuges por causa de herança... E as consequências disso para quem não tem qualquer tipo de apoio são certamente as piores, como no caso da Carmem Lúcia. Além de toda a tragédia assombrando a pequena, ela ainda tinha que catar lixo para se alimentar. Obviamente isso também é real, é um aspecto social que justifica o aumento da criminalidade em qualquer lugar que seja. Uma hora a pessoa cansa de sofrer por uma culpa que não é sua e vai para o lado desonesto da vida, visando a ilusória felicidade. Então Carminha cresce, cansa-se do lixo e resolve se prostituir – o que também é bastante real – posteriormente tendo um filho e tentando sustentá-lo como podia. É aqui que fica claro que ela tentou ser uma boa pessoa, e é uma passagem que nos mostra que aquele final não foi simplesmente plantado de última hora, pondo Carminha como vítima e o pai como vilão. No decorrer da novela algumas passagens nos revelam que a vilã havia sido uma vítima social, apenas não sendo forte o suficiente para permanecer com o caráter intacto. Inúmeras vezes fica claro que ela não pretendia deixar a família, o que poderia ter sido feito se ela quisesse fugir com o amante; o tempo inteiro ela se preocupa com o filho, inclusive resolve buscá-lo assim que vê que conseguirá dar uma boa vida ao menino; ela não pensava em matar Rita, embora nutrisse um ódio vigente pela mesma. Em situações como essa fica perceptível que ela não era um monstro, mas alguém com grave desvio de caráter, que não sabia amar... Ainda assim humana!

Tudo isso se confirma quando analisamos a Nina/Rita: ela também sofreu na infância, com a morte do pai, com os maus-tratos da madrasta, com a vida no lixo. Embora tenha sido resgatada por uma boa família, tudo aquilo seguiu com a garota, motivando-a a querer fazer a “madrasta má” pagar pelo que fez. No decorrer da vingança Nina também tem o caráter desviado, mostrando a face de vilã na mocinha e explicitando o que sentimentos ruins fazem com o ser humano. Só que, por ter adquirido bons valores na vida e por ter um caráter mais formado, a jovem percebe seu desvio e volta atrás, voltando a ser íntegra e ao mesmo tempo destemida. É importante perceber os aspectos envolvidos na trama, entender que são tão reais quanto as nossas vidas: somos quase que inteiramente formados pelos outros, moldados pela sociedade! Se Carminha queria tanto assim dinheiro é porque a sociedade supervaloriza o dinheiro. Se Carminha passava por cima dos outros para obter sucesso é porque a sociedade é egoísta. Os valores são passados de pai para filho e afixados pelo meio, o que faz de um órfão pobre um ótimo alvo para a criminalidade. Por isso é tão comum que haja tanta maldade: falta educação para o povo, faltam valores, falta amor! E isso é ciclo vicioso visto desde sempre, que parece se perpetuar. As coisas são enfeitadas na novela, mas os problemas sociais são reais, inclusive as passagens da socialite discriminando as pessoas de menor poder aquisitivo. Foi por esses motivos citados acima que eu gostei da ideia de redenção da vilã: ela foi realmente mais uma vítima da sociedade! Achei bacana que o autor destacasse a importância do perdão, bem como a velha máxima do “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”. Embora todas as maldades da antagonista não sejam aceitáveis, foram justificáveis, assim como é justificável um garoto pobre roubar, traficar, e etc. Infelizmente é justificável, porque a culpa não é tão só e verdadeiramente deles, e sim de quem lhes permite tal transvio, o que em menor escala são os pais/família, e em maior escala é a repugnante sociedade. 

Analisando superficialmente aspectos psicológicos, nossa vilã possuía uma mente perturbada, porém disfarçada de esperteza. Ela aprendeu a jogar sujo, a se dar bem às custas dos outros, a mascarar felicidade, a esconder traumas e dores; numa análise mais ousada, poderia dizer que a personagem decidiu desligar sentimentos pra não conviver com a dor da tragédia que viveu, o que no fim não deu muito certo. Analisar o personagem Max seria ver praticamente a mesma coisa: um rapaz sofrido, fraco e com a ilusão de que dinheiro a qualquer custo traz felicidade. Os “Maxs”, as “Carminhas” e as “Ninas” estão bem vivos pelo mundo afora, e muitos mais ainda estão em formação... É triste, mas é real. Não posso afirmar que a pessoa vai ser o que o meio determina, afinal nem todos que cresceram nessas condições se tornaram criminosos e isso ainda é um mistério para mim, porém posso afirmar que um caráter é facilmente formado de acordo com o modo de vida da criança e das pessoas ao redor. Enfim, essa novela me trouxe uma inspiração bastante ampla sobre a vida, e isso é um ponto bem positivo, justificando o motivo de tanta adoração das pessoas para com ela. 

7 comentários:

Marco disse...

não achei graça nessa novela, nem gosto de novelas, e essa achei uma das piores.

Lucas Adonai disse...

Poxa, achei muito bacana a sua post!

KGeo disse...

uma mulher que aceita o marido com outras duas, é uma mulher que entende de ciência, e sabe que os machos são geneticamente programados a ter várias, n sou eu que estou dizendo é a ciência :D
aqui o link do que eu estou falando.

http://jovemnerd.ig.com.br/nerdcast/nerdcast-316-a-ciencia-do-sexo/

Zetrusk disse...

Essa novela ta sendo muito comentada D:

Aline disse...

Muito boas suas considerações... Confesso que não foi minha novela preferida, mas acho que o autor acertou em criar personagens com defeitos e qualidades... Fugiu um pouco daquele clichê de personagens perfeitinhos...

Grazii disse...

Como sinto falta de Avenida Brasil, foi uma ótima novela, com uma vilã inesquecível e maravilhosa. Eu preferiria que a vilã se desse bem no final, pois eu gostava tanto dela que merecia um final feliz. Esta assistindo a nova novela?

Unknown disse...

Oiiieee...passando aqui pra conhecer seu blog e deixar um recado
(Video Novo) Make Azul com Delineado azul......Siga que eu sigo tb!!!!

http://youtu.be/5PgC5gHeLzI
www.makeolatras.blogspot.com.br

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Capricorniana, 19 anos, um tanto tímida porém de personalidade forte. Tem pés no chão e paradoxalmente idealiza o mundo e tem um tanto de fé nas pessoas. Adora admirar as coisas simples, e as valoriza muito mais do que as coisas "compradas". É apaixonada pela escrita e não poupa palavras para dar sua opinião. Acredita que palavras têm um poder imensurável; acredita também que pode trazer, assim, um pouco de felicidade às pessoas. Sonhos? Possui muitos, e tenta realizá-los. Dá tudo por seus amigos, luta por sonhos alheios também. Seu grande sonho profissional é cursar psicologia - profissão pela qual é apaixonada desde criança; outros sonhos seus são conhecer os amigos virtuais e viajar pelo mundo. Preza a sinceridade e a generosidade. Gosta de estudar, conhecer, ver. Se sensibiliza com histórias espontâneas, dramáticas e que possuam essência. A magia de um conto, de uma música, lhe dá arrepio. Ah, e tem uma paixão forte por retratar vidas alheias, seja como prosa, seja como poesia.
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