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quinta-feira, 1 de março de 2012
O mundo de um estranho sonhador
Mais uma xicara de café. Agora bebericava com pressa, apesar da visível quentura, com fumaças saindo desenfreadamente. Lia o jornal da manhã, com os olhos correndo pelos classificados. “Nossa, quanta tragédia de ontem pra hoje”, mencionava calmamente. Na verdade, precisava arranjar um emprego com urgência. A “vida mansa” não lhe pertencia mais... Era hora de virar gente, como dizem por aí. Achou inúmeros empregos, mas nenhum parecia lhe servir. Não que fosse indigno ou coisa assim, apenas exigia uma experiência mínima, o que não correspondia a sua realidade. Olhou para o relógio. Seu tempo acabara. Adeus aos classificados, era hora de ir à luta de verdade. Penteou os cabelos, visualizou o “conjunto” pelo espelho e concluiu que estava satisfatório. Riu da própria vaidade e saiu, trancando as portas. No trajeto, observou as pessoas transitando rapidamente, devido à loucura do dia a dia. Não queria ficar assim, almejava uma vida tranquila. Suspirou. “Em que mundo você vive? A realidade é bem diferente, acorda”, pensou. Pois é, pra se viver nesse mundo tinha que trabalhar, trabalhar, trabalhar... E trabalhar. Aproveitar e se divertir é pra quem pode, não para a estúpida e esmagadora maioria. Caminhava distraidamente, com as mãos no bolso e assobiando uma música dos Beatles. Que raios de pessoa procuraria um emprego assim? Era um completo sonhador, desconhecedor das regras do mundo real. Mas estava prestes a conhecê-lo, e teria que aprender à força a seguir as tais. Encontrou agências de emprego, marcou entrevistas. Por ser inteligente e perspicaz, conseguiu três trabalhos: assistente bibliotecário, operador de telemarketing e caixa de banco. Escolheu a primeira opção. Inicialmente adorou, por estar próximo de sua paixão – livros –, porém logo se cansou das pessoas procurando-lhe sem parar. Tentou a segunda opção. Gostou de poder passar trotes e rir das pessoas nervosas, entretanto o stress incontrolável dos clientes o irritou demasiadamente. Por fim, tentou o terceiro. Era um trabalho leve, lhe aproximava do dinheiro... Mas isso não o interessava. Era entediante demais para ele. Após as três experiências, concluiu que não servia para trabalho algum. As pessoas, segundo ele, eram muito entediantes, arrogantes e previsíveis. Queria algo novo e diferente. E então decidiu: foi ser escritor. Criou o mundo que almejava viver, as pessoas com quem desejava conviver... Não tinha muito dinheiro, mas não vivia na correria rotineira dos demais. Era feliz. E isso era, definitivamente, raro.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
E-mails para Eric - o fim
Dois dias se passam. Dias esses inquietantes para Eric: o garoto não come direito, tampouco consegue sentir sono. Seu pensamento volta-se só e somente para Marie, de maneira desesperada. Apenas ele sabia o quão depressiva a menina era, e nem ele sabia o que ela poderia fazer quando ninguém estivesse ali para ampará-la! Treze minutos do novo dia se passaram e então Eric decidiu: iria para a Espanha em busca de Marie. Iria encontrá-la, não importasse como. Então saiu às pressas com pouca bagagem em direção ao aeroporto de Santa Catarina. Como não tinha dinheiro suficiente para a passagem e estadia lá, antes de chegar ao aeroporto passou na casa do pai (com o qual era brigado) e implorou por ajuda para encontrar Marie. O pai, comovido e emocionado, ajudou seu filho. Com o dinheiro em mãos, correu para o aeroporto, comprou a passagem e lá esperou o voo. Quando chegou a hora, Eric subiu apreensivo, só então se dando conta de que Madri é uma cidade imensa, e apesar de saber o bairro e rua, seu espanhol deixava bastante a desejar, o que dificultava muito as coisas. Porém, deixou evaporar as possíveis frustrações e embarcou. Acabada a viagem, tratou logo de pegar um táxi com o mapa de Madri em mãos e pedir para ser conduzido ao hotel mais próximo. Aproveitou para perguntar ao taxista onde ficava a tal rua Martínez Molina do tal bairro Los Rosales do tal distrito Villaverde; porém foi uma tentativa frustrada, pois o taxista não sabia informá-lo. Chegando ao hotel, hospedou-se e logo saiu, em busca de Marie. Horas se passaram até que ele encontrou um rapaz que estava indo justamente para aquele bairro. Caminharam juntos e ao chegar no bairro, Eric foi procurar a rua; o relógio já marcava 21 horas quando o garoto finalmente encontrou. Felicitou-se e começou a perguntar se alguém conhecia Marie, dando suas características; após um tempo, alguém reconheceu a garota e fez uma cara de piedade. Eric, ansioso, perguntou onde a menina estava, e a moça, hesitando, disse-lhe que Marie havia se suicidado. O menino descontrolou-se, não acreditando no que ouvira; desatou a chorar, gritando sua dor, gritando o nome de Marie. A moça o levou para sua casa, embora ele resistisse, e tentou acalmá-lo. Passaram-se mais algumas horas, quando, cansado e estupefato, Eric adormeceu. Acordou no dia seguinte, ainda incrédulo. A moça que havia lhe acolhido, Amélia, ofereceu-lhe café da manhã e pôs-se ao lado dele. Como falava português, Amélia conversou com Eric, contando-lhe que Marie não suportou o fato de o pai ter morrido e atirou-se da ponte do lago de onde morava. O garoto, entristecido, agradeceu a ajuda de Amélia e foi embora. Caminhou por entre as árvores, pensativo e desnorteado, até que chegou em um restaurante e parou para comer algo. Estava comendo, quando de repente avistou uma garota parecida com Marie, porém com a cor dos cabelos diferente; curioso, chegou mais perto, mais perto e... Surpreendeu-se: aquela era, sem dúvida, a sua Marie! Nervoso, chamou a garota e ela virou-se instantaneamente; quando viu que era Eric, desmaiou. Instantes depois ela acordou, e Eric perguntou o que havia acontecido, relatando o que Amélia lhe havia dito. A menina explicou que realmente se jogara, porém um rapaz a encontrou quando ainda estava com vida e amparou-a. Imensamente feliz, Eric beijou Marie, com lágrimas caindo descontroladamente dos olhos. Os dois ficaram ali por horas, enquanto a menina contava com detalhes o que havia acontecido em sua vida desde o dia que mandara aquele e-mail.
Dias depois, voltaram para o Brasil. As feridas de Marie sararam, porém as cicatrizes ficaram. Cicatrizes essas que a menina carregaria para o resto da vida. Eric fez as pazes de vez com o pai, passando a visitá-lo com frequência. Os e-mails continuaram a ser trocados por Eric e Marie quando um dos dois viajava. Um tempo depois, casaram-se e viveram, enfim, felizes.
observação: o intuito dessa história é mostrar que o amor de verdade ainda é capaz de vencer qualquer barreira. Sei que não é do meu feitio relatar finais felizes, porém, às vezes é necessário acreditar que eles existem.
domingo, 14 de agosto de 2011
E-mails para Eric
Suponho que tenha intrigado algumas pessoas quanto à última postagem. Perguntas como: "Quem é Eric?", "Quem é Marie?", "De onde eles surgiram?" e por aí vai. Realmente, postei uma estória que advém de uma outra estória, portanto agora vou mostrar-lhes o início de tudo entre Eric e Marie. Espero que curtam, e divirtam-se com mais um conto!
Marie era uma garota diferente de muitas da sua idade: não se importava com festas, namoro, roupas nem popularidade. O que ela gostava mesmo era de estudar, ouvir música e ficar em seu computador, conversando com os poucos - porém verdadeiros - amigos que tinha, e procurando sites legais. Olhando por aí, achou um site de músicas no estilo do myspace e resolveu adentrar a essa nova rede. Certo tempo depois, fez amizade com um rapaz chamado Eric, que morava numa cidadezinha de Santa Catarina, bem distante da garota, que morava na Espanha para completar os estudos. O garoto era bem parecido com ela, exceto pelo gosto de sair, e tinha apenas dois anos à sua frente (possuía 20 anos completos). Os pais de Marie eram separados, o que fazia a menina sofrer bastante, e os pais de Eric, apesar de juntos, brigavam e estavam a um passo da separação. Neste conflito familiar comum aos dois, um entendia perfeitamente o outro, e apoiavam-se como irmãos. Tudo que acontecia a Eric, ele comunicava à garota através de e-mails, e vice-versa; conquistas, sonhos, tristezas, agonias... absolutamente tudo. A menina era um tanto depressiva, tendo por vezes relatado crises existenciais a Eric; um dos motivos de crise era justamente o fato de não poder abraçar o seu melhor amigo, o seu amor, visto que moravam longe e não tinham condições de se encontrar. Eles combinaram de se encontrar no ano seguinte (Eric estava juntando dinheiro para vê-la na Espanha). Inesperadamente, o pai da garota sofre uma parada cardíaca e é levado às pressas ao hospital, ficando em estado gravíssimo. Marie, sem condições de relatar a situação a Eric, vai ao hospital e fica lá por dias. Eric preocupa-se com a amada, mas não tem como saber o que houve, apenas enchendo-a de e-mails desesperadamente. O pai de Marie após um mês falece, deixando-a completamente desnorteada. Quando isto ocorre, ela manda um e-mail a Eric (aquele relatado na postagem anterior) e decide ficar longe de tudo, isolando-se em seu quarto. Completamente entristecida, Marie entra em profunda depressão, cortando partes de seu corpo friamente, sem que ninguém pudesse impedí-la. Eric desespera-se mais ainda ao ler o e-mail deixado por ela e continua enchendo a caixa de entrada da garota, sem êxito de resposta.
Bom, pessoal, vou deixá-los um tanto curiosos com o final dessa estória... Se quiserem, podem opinar: O que vocês acham que Eric deve fazer? Procurar a garota na Espanha ou simplesmente deixá-la para trás?
O fim só postarei depois, aguardem...
domingo, 7 de agosto de 2011
Sobre as coisas que não se quer sentir
Salve, salve! Tem um bom tempo que não posto aqui, por motivos óbvios e já conhecidos por muitos. Ontem eu pretendia fazer uma postagem legal e bem elaborada, mas vi que o layout já estava enjoativo aqui no blog e que eu precisava trocar. Passei umas boas horas só testando temas, vendo o que mais se adequava ao blog, até que achei o que aí está; contudo, este lindo tema (pelo menos eu curti, e vocês?) estava cheio de coisas desnecessárias e necessitando de configurações pessoais. Enquanto estava só nos elementos e gadget estava ótimo, mas logo depois tive que mexer com html... quem tem blog sabe o quanto é chato e complicado manusear html. Mexi, remexi, consegui consertar alguns erros mas outros persistiram; o resultado foi esse aí que vocês viram: linkbar fail e uma parte da blog-pager mal configurada (aí é coisa do tema mesmo, porque o html já veio com a configuração errada), então considerem meu esforço. Enfim, como tudo isto ocorreu pra ocupar meu tempo, me resta pouco dele e vou transpor uma coisa que escrevi aqui.
Querido Eric, escrevo essas palavras impensadas e mal selecionadas meio sem querer. Perdoe-me por te mandar este e-mail a esta hora da noite, é que não pude aguentar! Perdoe-me de verdade, mas precisava desabafar contigo.
E o meu disfarce é óbvio. É minha maneira de esconder a dor, é a minha maneira de esconder quem realmente sou, o que realmente sinto; tudo parece desconexo e se eu parar pra desabafar a alguém, parecerei louca, não parecerei “eu”. O desespero da alma é tão grande que sinto que ninguém me conhece... por mais que eu tente ser sincera. A verdade é que por mais verdadeira que eu seja, jamais serei transparente! Não consigo vomitar minhas ânsias, minhas mágoas, meus sentimentos. O motivo de tanta reclusão é minha clara impotência, o fracasso de não conseguir pedir ajuda; doi demais gritar em silêncio, mas sempre sinto que não sou nem serei ouvida se gritar acima de 80 decibeis, em último caso. É estranho sentir tanta dor, tanto vazio e não conseguir dividir com alguém, como se isso tornasse tudo gélido e frágil. É estranho se machucar com alguém que ama e não ter coragem de admitir para o outro. É estranho querer alguém e fingir que não quer, até pra si mesmo. É estranho pensar que não precisa de ninguém, quando é exatamente o contrário. É estranho querer chorar e simplesmente forçar um riso. É estranho se sentir estranho em um lugar e mesmo assim permanecer nele. É estranho se sentir fraco demais e não bambear nem cair. É estranho... tudo é estranho. Eu sou estranha. Será que podes me salvar? Será que podes me livrar de mim mesma?
Com amor e tristeza, Marie.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Chá, biscoitos & poesia
Era uma tarde de novembro. Charles fora a um café próximo de sua casa para escrever e refletir um pouco sobre sua vida. No trajeto, acendeu um cigarro e comprou um jornal do dia. Ao entrar no café, pediu seu chá com biscoitos de sempre e sentou-se; só então observou a moça que estava sentada à mesa ao lado: estava lendo um romance com lágrimas nos olhos, bebericando chá e comendo biscoitos. Aquela cena chamou a atenção de Charles, e ele então chamou-a para sentar-se ao seu lado. A moça, surpresa, aceitou o convite. Os dois engataram uma conversa divertida, pois perceberam que só o que tinham comum era o gosto pelo chá, pelos biscoitos e pela escrita. Ambos costumavam escrever apenas daquela forma, mas nem mesmo sabiam se era só costume ou lhes evocava inspiração. Charles era o típico rapaz de classe média-alta, que não se importava em trabalhar, estudar, pois tinha uma vida sustentada pelos pais e por seus vícios; seu lema era: sexo, drogas & rock'n roll. Já Lorrane era a típica menina boazinha de classe média-baixa: super romântica, comportada, solidária e séria. Ou seja, aqueles dois indivíduos tão apaixonados pela escrita divergiam completamente em todo o resto: gosto musical, lugares (exceto aquele café), influências, estilo de vida e tudo o mais. Entretanto, o mais incrível é que a conversa dos dois fluiu excepcionalmente bem, tanto que se passaram horas e eles nem perceberam. Riam muito, apontavam os defeitos do outro e até esqueceram do propósito de estarem ali: escrever. Lorrane questionava os gostos de Charles; perguntava porque ele bebia tanto, porque gostava de transar com desconhecidas, porque se drogava e porque não levava nada a sério. Para ela, não fazia sentido nada daquilo, pois são vícios auto destrutivos.
- Pra que levar a vida tão a sério? O que se leva dessa vida é a vida que se leva. Eu posso morrer quando sair daqui, sem ter me divertido nem um pouco, Ane! - rebatia Charles.- Isso é verdade. - sorria Lorrane.
Em contraponto, ele questionava o porquê de ela agir tão certinho, esperar "o cara certo" pra transar, querer ajudar todo mundo sem visar retorno, ser tão idealista sobre o mundo.
- Tudo deve ser feito em prol do outro. Não gosto de ser individualista quando posso levar alegria a algumas pessoas... Quanto ao cara certo, não pretendo ser chamada de prostituta por ninguém. - respondeu Lorrane.
A conversa se seguia, e ele a olhava com um brilho intenso, admirava-a, encantado. O mesmo acontecia com ela: admirava-o enebriada, apaixonada. Depois de um bom tempo de conversa, Lorrane teve que ir embora. Charles queria acompanhá-la, mas a menina estava atrasada para o encontro com as crianças carentes e saiu correndo, sem deixar nenhum modo de contato.
No dia seguinte, a menina foi ao mesmo café tentar desculpar-se com Charles, mas não o encontrou. Ficou sem saber o que fazer, então resolveu tentar no outro dia. Fora uns cinco dias seguidos tentar encontrá-lo, sem sucesso, então ela desistiu. Sete anos se passaram, Lorrane já tinha 25 anos e Charles, 27.
Até que encontraram-se num outro café, praticamente irreconhecíveis um para o outro. Lorrane, a garota certinha de sete anos atrás, vestia uma jaqueta de couro, tinha piercings pelo corpo, algumas tatuagens e um estilo bem "punk". Já Charles, o inconsequente dos mesmos sete anos atrás, vestia camisa social, estava barbeado e perfumado, com aparência de um típico "mauricinho". O espanto dos dois não foi pequeno, e pode-se imaginar o motivo. Boquiabertos, eles se abraçaram e indagaram, atônitos: - Mas o que houve com você??
Então sentaram-se e quando o garçom veio, pediram o mesmo chá com biscoitos - o que significava que ao menos algo ali não mudara. Enquanto o pedido não vinha, Lorrane começou a se explicar:
- Charles, eu realmente segui seus conselhos. Mudei bastante, é verdade... Percebi que precisava aproveitar a vida, pois estava me dedicando a todos, menos a mim mesma! Ah, e por onde você andou nesses últimos anos? Te procurei no dia seguinte àquele, para me desculpar pela pressa, mas não te encontrei mais...
- Já comigo aconteceu o contrário. Parei de ir àquele café porque suas palavras me tocaram. Percebi que eu precisava parar de me importar apenas comigo, e comecei a me envolver com ONG's, trabalhos comunitários, além de mudar completamente meu gosto musical, meu estilo de roupas e meu estilo de vida. Larguei as drogas, a vida sexual banalizada e passei a ouvir mpb.
- Uau! Incrível, nem posso acreditar! Parou de escrever?
- Não, isso nunca! E você?
- Também não... Ao menos nossos três gostos em comum permaneceram intactos!
Antes de continuar a conversa, eles trocaram números de telefone, para que nunca mais perdessem o contato outra vez. Então os agora adultos conversaram por mais horas e horas, como da última vez... Foram risos, críticas bem humoradas, e toda aquela magia de sempre, que os conectava de forma surreal. E eles continuaram a se encontrar nos dias que se seguiram, conversando, escrevendo e trocando farpas de brincadeira.
Ele a olhava com o mesmo encanto de sete anos atrás. Ela o olhava com o mesmo encanto de sete anos atrás. Era engraçado perceber que ele não a amou anos atrás por ela ser politicamente correta, visto que a amava mesmo como uma punk; e tampouco ela o amou por ele ser um maluco inconsequente, visto que agora ela o admirava tanto quanto antes, mesmo ele sendo "certinho". O que, então, conectava tão fortemente aqueles dois? Seria o chá, os biscoitos e a poesia? E mais... Até quando eles seriam tão opostos, tão "positivo e negativo"? São mistérios que talvez nunca se desvendem. Eles brincavam, brigavam, não tinham quase nada a ver. Mas se amaram, mas se amavam. Ah, que sentimento..! São formas de amor, são formas de amar.
domingo, 3 de abril de 2011
Esquecido pela própria morte
Era apenas uma noite fria desatada em choros; os gritos ecoavam pelo vazio, eram agonizantes e graves. Tudo isso em meio a uma floresta negra, com enormes árvores cercando o lugar que tanto amedrontava. Sentado entre a lama e uma cabana, estava o garoto que fazia o silêncio se romper; além dele, só se ouviam os ruídos de galhos se movimentando e, em alguns momentos, o vento uivante. Nem animais se via naquele lugar onde o menino se perdera – ou se achara.
O garoto tinha as duas mãos ocupadas: numa estava uma garrafa de vinho e noutra um cigarro, ambos já utilizados; ele estava bêbado, porém as palavras que ouvira momentos antes não o deixavam adormecer, nem sentir sono. Muita coisa aconteceu naquele dia, e desnorteado, o rapaz foi parar naquele lugar deserto que nem fazia ideia de como havia conseguido chegar.
“Eu odeio você, sua banda idiota, seus amigos infantis, seus fãs psicóticos. Odeio inclusive a mim, por ter estado com você por todo esse tempo. Odeio sua vida dispensável e frustrada, você é apenas mais um sociopata sonhador e idealista. Deixe-me em paz, para sempre.“ Essas foram as palavras proferidas por alguém a quem ele amou desde a infância, que cresceu com ele e sempre havia sido o amor de sua vida – ao menos era o que ele acreditava. Parecia insano que ele realmente tivesse ouvido tudo aquilo, mas ele mesmo acreditava em tudo o que ela dissera: ele se achava tudo aquilo, e tinha uma real e vigente frustração. Sua vida havia se tornado inútil, e ele já não conseguia levar alegria ou sentimento em sua música, pois estava vazio e insuscetível à própria dor. Ele havia perdido o amor pelas pessoas, por tudo o que conquistou... Sem exceções. Por último, perdeu sua amada. De que lhe valia viver? O gosto da emoção já não havia em sua essência, o sorriso que ele estampava era mais falso do que mercadoria informal. Sua vida se resumia ao passado, porque o resto estava morto, toda a sua vida de verdade se apagara, como uma simples chama que até o vento obscurece.
Naquele momento estonteante de lembranças, o rapaz tirou um papel do bolso e começou a ler freneticamente; estava certo do que queria fazer, e era o que já queria ter feito desde o início dessa sensação. Após completar a leitura, ele enfiou a mão no outro bolso e puxou uma arma prateada, de calibre desconhecido e disse “Estou indo para perto de ti, querido Kurt Cobain”. A cena que se seguiu foi extremamente dolorosa e violenta: o gatilho da arma foi puxado e rapidamente solto em direção à cabeça, e bastou apenas uma bala para que aquele indivíduo perdesse sua vida. A garrafa de vinho caiu e o vidro se partiu; tudo o que se via naquele lugar era vermelho: o vermelho do sangue, o vermelho do vinho.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Um mundo esquecido
Sozinha. Solitária como um livro velho esquecido na estante, triste como uma criança que se perdeu dos pais; Com a sensação de que há algo perdido dentro de si, algo que a deixa vazia, como se fosse uma dor que já machucou tanto que parou de sangrar... Não por encontrar felicidade, e sim por ter deixado escorrer todo o sangue que ali havia. Era como não ter forças nem ao menos para sentir, muito menos para amar.
O céu lá fora não parecia ter cor, era apenas um negro que amedrontava, que deixava tudo a sua volta morto, frio e sem o mínimo de alegria... Era como estar em meio a um nada!
E ela permanecia naquele lugar sombrio, sem ter idéia de como voltar ao mundo “normal”, sem saber se ainda queria sair mesmo dali; aquele lugar lhe tirara tudo, e agora, de que valia voltar atrás? Todos os seus sonhos e alegrias tinham se esvaído junto com a cor daquele céu, junto com a vida daquele lugar; e só restavam os vestígios de dor... E o vazio.
As lágrimas naqueles olhos vermelhos já haviam secado, afinal não havia mais dor, mas a menina ainda contemplava o lugar como se estivesse triste; havia um lago bem próximo dali, e a água era como tudo o mais: morta, gélida, negra. A menina levantara e começara a caminhar, chegando cada vez mais perto do lago, como se quisesse cair naquele abismo.
Há muito tempo abandonaram-na ali, todas as pessoas que diziam amá-la, todas as pessoas a quem ela verdadeiramente amou... Quando ela mais precisou, ninguém estava ali para ajudá-la! E foi ali que ela começou a se perder, que ela achou que deveria ficar... Só não sabia o quão aquele lugar era doloroso e a faria sangrar das piores formas.
Aquele lugar trouxe à tona todas as lembranças que ela preferia não ter, todo o amor fingido que lhe davam, toda a felicidade perdida que ela tivera... E viu aquelas pessoas livres, sozinhas, e nem um pouco preocupadas com sua partida!
Então a menina havia ido para lá, sofrer sozinha, talvez em busca da verdadeira felicidade; mas era algo que aquele lugar jamais poderia te dar... Porque ali só havia o lado ruim de sua vida, algo que ela não conseguia superar.
A garota enfim alcançou o lago negro: seus pés tocaram a superfície gélida da água, e ela nem estremeceu, continuou firme, caminhando por entre as águas, indo cada vez mais fundo... Até que seu corpo todo estava submerso.
Dali ela podia ver todas as pessoas ao seu redor, e fogo sobre a água; aqueles a quem ela amou estavam queimando, enquanto ela estava afundando... Mas a menina sorria, mesmo sem alegria e sem emoção, ela sorria... E estava afundando cada vez mais, sem nada fazer para se salvar, ela queria afundar; Enquanto o lago a engolia, assim como o lugar fez com sua felicidade e com sua tristeza, ela sorria, e o mundo queimava.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Um alguém
Há algo a ser escrito, mas os papeis permanecem em branco, as vozes distantes, os gritos mudos, a cabeça sem idéias. Alguém pede socorro em silêncio, com lágrimas cristalinas caindo sobre a face que um dia recebeu vários beijos simultâneos. Esse alguém está sozinho, clamando por amor, carinho, atenção; mas ninguém está lá para ajudá-lo! Ele quer escrever uma carta e enviá-la a outro alguém que não sabe quem, de algum modo que não sabe qual... Mas não consegue escrever nada! Suas emoções estão abaladas, e apesar de chorar e sentir as dores da mágoa, ele permanece com o olhar fixo e frio para o papel, como se soubesse que não haveria pedido de socorro que o tirasse dali, que o resgatasse do lugar sombrio e cruel no qual se encontrava! Seus olhos vermelhos pareciam ter esquecido como ver, suas mãos pequenas pareciam ter esquecido como escrever, seu coração parecia ter esquecido como amar... E ainda assim ele continuava se sentindo magoado, sozinho, incapaz de continuar. Talvez ao invés de uma carta, ele quisesse escrever uma história bonita, que pudesse comover a todos os corações que sentissem a intensidade daquelas palavras, mas não sabia como fazê-lo! Ele não estava feliz e sua criatividade estava perdida em meio à tristeza e escuridão, só o que ele sabia era que não queria continuar daquele jeito... Frágil como uma rosa, duro como uma pedra. Aquele mesmo alguém sempre quis levar alegria às pessoas, sempre quis contar histórias bonitas e comoventes, mas agora ele estaria levando tristeza a todos, pois que estaria contando a própria história.
ps: Postado a pedido da minha Jéssica/Gê ♥
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
A menina que gostava de escrever
Eduarda tinha 16 anos, morava com a mãe - seu pai havia morrido há 5 anos, não tinha irmãos e vivia isolada, não tinha amigos por opção própria. Ela temia perder outra pessoa, como perdeu o pai, porque era o tipo de coisa que Eduarda não conseguia superar e por isso preferia se afastar de todos... para evitar o sofrimento. Como não tinha ninguém (não falava com a mãe, por mais que ela tentasse se aproximar), Eduarda passava o tempo lendo e escrevendo, eram as coisas que a menina realmente adorava fazer. Não ia à escola mas aprendia tudo sozinha com os livros e era muito inteligente. A menina ia à praia todas as tardes, pois o mar lhe trazia inspiração, e ficava ali até a tarde cair e a lua brilhar... era algo que a fazia sorrir e chorar ao mesmo tempo. Do outro lado das pedras, ficava um menino fazendo o mesmo que Eduarda: admirava o mar. Eduarda sabia todos os traços do menino, o observava discretamente ao longe e normalmente o colocava em suas estórias como um príncipe, porém nunca ousava sequer aproximar-se do garoto.
As estórias que a menina criava eram exatamente as coisas que ela queria viver, porém temia, por isto as deixava somente no papel. Eduarda chorava com as próprias estórias, se divertia com elas, com os personagens que criava... eram aqueles os amigos da garota. Ela sonhava com um príncipe encantado, sonhava com amigos fieis e leais, colocava o pai como heroi... e no final de tudo isto, a menina só chorava.
Um dia, Eduarda escreveu uma estória que era um misto de "Romeu e Julieta" com "Um amor para recordar", e quando foi chegando ao fim do conto que seria sufocantemente triste, a menina então percebeu que nem todas as histórias deviam ter um fim triste... que nem tudo tem que ser trágico e que as histórias podem ter fins felizes e bonitos, dependia apenas de quem escrevia a estória, de quem fazia a história! Então Eduarda modificou todo o capítulo do conto e o transformou em algo parecido com um conto de fadas, só que da vida real: com tristezas, alegrias, dificuldades, superação, entre outras coisas. A menina decidiu que iria dar um fim diferente a sua própria história, pois assim como manipulava seus contos, podia manipular a própria vida!
No dia seguinte, Eduarda foi à praia como fazia sempre, só que dessa vez ela iria fazer diferente: esperou o garoto chegar e fez-se perceber, fitou-o como jamais havia feito antes; O garoto então se aproximou, e eles ficaram ali, juntos, sem nada dizer... e o dia foi passando. Espontaneamente, as duas mãos se entrelaçaram e o que se seguiu disso foi um lindo beijo. Para os dois, foi algo mágico. Eles comunicaram-se com o olhar e depois começaram a conversar. Eduarda chegou em casa e beijou a mãe, dizendo que a amava, chorando de tristeza e felicidade ao mesmo tempo. Sua mãe espantou-se, abraçou-a e as duas choraram juntas.
Ali era apenas o começo da história mais linda que Eduarda já sonhou em escrever, porque era a sua história, era o começo da sua felicidade, do seu conto de fadas, e isto, não havia livro algum que pudesse retratar.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Irreversível
Anoitecera. Pensamentos pairavam em minha mente, e eu não conseguia esquecê-los, não conseguia digerir os fatos. Tudo o que vira naquela tarde modificou a minha vida da maneira mais terrível que poderia modificar, congelara minhas pernas e ferira profundamente meu coração.
O que você faz quando é friamente traído pelas duas pessoas que mais amava? Seria capaz de suportar toda essa dor sem querer gritar, chorar, quem sabe até morrer...?
Meu telefone tocava sem parar. Sabia que era ele, e não queria atendê-lo. Não, nem que eu tivesse que destruir os fios do poste, eu não iria atender.
Meus olhos começavam a ameaçar se fechar, mas as cenas perpassavam em minha mente e me tiravam o sono. De repente ouvi um barulho e desci as escadas para ver o que era.
- Clara, você precisa me ouvir! Por favor, deixe-me explicar tudo o que viu, ouviu, sei lá mais o quê...! - Eduardo andava de um lado para o outro, hora olhando para mim, hora para o chão.
- Como você tem coragem de vir aqui? Depois de tudo o que vi e ouvi, dispenso explicações! Fora, fora daqui, agora! - descontrolei-me.
- Clara, ela fez de propósito! Eu não queria, ela mentiu, me persuadiu! Desculpa, perdão, eu não queria! - ele agora se ajoelhara.
- Não era o que parecia, ok? Olha, eu não sou nenhuma criança, então não tente me iludir, está tudo acabado, nunca mais me procure! - doía tanto pronunciar aquelas palavras...
- Eu te amo, Clara! A Vitória armou tudo, por favor, acredite em mim! Ela, justo ela, que sempre se disse sua melhor amiga fez isso com você, ela quem te traiu, não eu!
- Chega! Nem mais uma palavra! Eu vi vocês fazendo coisas que prefiro não lembrar! Carícias, beijos, não há como ter sido armação! Bem que ela me alertou que você não valia nada! Agora sai daqui, e me esquece, para sempre. - sublinhei as últimas palavras.
- Eu te entendo... farei tua vontade. Seja feliz, Clara, de coração eu te desejo. Só espero que um dia você descubra a verdade. - disse ele por fim, com os olhos cheios de lágrimas.
Claro que eu não acreditei em uma palavra que ele proferiu. Nenhuma. Falso, mentiroso, infiel, mau caráter - eram esses os adjetivos que eu dava a ele naquele momento. Voltei para o quarto, tamanho era o cansaço e a vontade de chorar.
No dia seguinte resolvi me mudar dali, sair da cidade, começar uma nova vida.
Algumas semanas depois estava feliz, e curada daquela angústia que havia me tomado antes. Um ano se passou, minha vida estava perfeita, porém não encontrei um outro amor. Queria distância dos homens, e de amizades muito próximas. Então, numa bela segunda-feira, recebi uma carta da Vitória, confessando todas as maldades que havia feito contra mim e o Eduardo, mostrando-se arrependida. Lágrimas caíram dos meus olhos ao terminar de ler; "Tarde demais..." - pensei comigo. O Eduardo havia se casado com outra mulher, e parecia estar muito feliz. Eu estava sozinha, mas também estava feliz. Nossas vidas tomaram rumos diferentes, e agora já não havia maneira de voltar atrás. Todos nós erramos: a Vitória, por agir de má fé; o Eduardo, por deixar-se seduzir; e eu, por não ter dado uma chance para o Eduardo provar-me que estava falando a verdade. Não há culpado para o "fim" dessa história, cada um decide o rumo que sua vida irá tomar, consciente ou inconscientemente. Eu poderia ter sido feliz ao lado do Eduardo, poderia ser eu a esposa dele agora; mas escolhemos viver outra vida sem querer, e hoje a vivemos por vontade. Talvez eu ainda permaneça no coração dele, como ele ainda está e sempre estará no meu, mas é pra ser assim: apenas uma lembrança de algo muito bonito.
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- Capricorniana, 19 anos, um tanto tímida porém de personalidade forte. Tem pés no chão e paradoxalmente idealiza o mundo e tem um tanto de fé nas pessoas. Adora admirar as coisas simples, e as valoriza muito mais do que as coisas "compradas". É apaixonada pela escrita e não poupa palavras para dar sua opinião. Acredita que palavras têm um poder imensurável; acredita também que pode trazer, assim, um pouco de felicidade às pessoas. Sonhos? Possui muitos, e tenta realizá-los. Dá tudo por seus amigos, luta por sonhos alheios também. Seu grande sonho profissional é cursar psicologia - profissão pela qual é apaixonada desde criança; outros sonhos seus são conhecer os amigos virtuais e viajar pelo mundo. Preza a sinceridade e a generosidade. Gosta de estudar, conhecer, ver. Se sensibiliza com histórias espontâneas, dramáticas e que possuam essência. A magia de um conto, de uma música, lhe dá arrepio. Ah, e tem uma paixão forte por retratar vidas alheias, seja como prosa, seja como poesia.
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Bruno Bonilha - "Sarcasmo requer talento, foi feito pra quem sabe usar... não pra quem tenta."Há 13 anos
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Escrever é como uma necessidade, para mim. É um sonho particular levar alegria ou algo de bom para as pessoas. Aqui consigo expressá-los poetica ou até mesmo grosseiramente, mas tudo isso tem um propósito. O que eu desejo é que as pessoas se conscientizem das coisas e que não percam a fé umas nas outras... Tento trazer paz, tento trazer amor, além de reflexão; aqui mesmo, neste cantinho! Pode parecer inútil, mas já é uma grande coisa. Entre, fique à vontade para ler, curtir, criticar e se expressar!
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