quinta-feira, 1 de março de 2012

O mundo de um estranho sonhador

Mais uma xicara de café. Agora bebericava com pressa, apesar da visível quentura, com fumaças saindo desenfreadamente. Lia o jornal da manhã, com os olhos correndo pelos classificados. “Nossa, quanta tragédia de ontem pra hoje”, mencionava calmamente. Na verdade, precisava arranjar um emprego com urgência. A “vida mansa” não lhe pertencia mais... Era hora de virar gente, como dizem por aí. Achou inúmeros empregos, mas nenhum parecia lhe servir. Não que fosse indigno ou coisa assim, apenas exigia uma experiência mínima, o que não correspondia a sua realidade. Olhou para o relógio. Seu tempo acabara. Adeus aos classificados, era hora de ir à luta de verdade. Penteou os cabelos, visualizou o “conjunto” pelo espelho e concluiu que estava satisfatório. Riu da própria vaidade e saiu, trancando as portas. No trajeto, observou as pessoas transitando rapidamente, devido à loucura do dia a dia. Não queria ficar assim, almejava uma vida tranquila. Suspirou. “Em que mundo você vive? A realidade é bem diferente, acorda”, pensou. Pois é, pra se viver nesse mundo tinha que trabalhar, trabalhar, trabalhar... E trabalhar. Aproveitar e se divertir é pra quem pode, não para a estúpida e esmagadora maioria. Caminhava distraidamente, com as mãos no bolso e assobiando uma música dos Beatles. Que raios de pessoa procuraria um emprego assim? Era um completo sonhador, desconhecedor das regras do mundo real. Mas estava prestes a conhecê-lo, e teria que aprender à força a seguir as tais. Encontrou agências de emprego, marcou entrevistas. Por ser inteligente e perspicaz, conseguiu três trabalhos: assistente bibliotecário, operador de telemarketing e caixa de banco. Escolheu a primeira opção. Inicialmente adorou, por estar próximo de sua paixão – livros –, porém logo se cansou das pessoas procurando-lhe sem parar. Tentou a segunda opção. Gostou de poder passar trotes e rir das pessoas nervosas, entretanto o stress incontrolável dos clientes o irritou demasiadamente. Por fim, tentou o terceiro. Era um trabalho leve, lhe aproximava do dinheiro... Mas isso não o interessava. Era entediante demais para ele. Após as três experiências, concluiu que não servia para trabalho algum. As pessoas, segundo ele, eram muito entediantes, arrogantes e previsíveis. Queria algo novo e diferente. E então decidiu: foi ser escritor. Criou o mundo que almejava viver, as pessoas com quem desejava conviver... Não tinha muito dinheiro, mas não vivia na correria rotineira dos demais. Era feliz. E isso era, definitivamente, raro. 

3 comentários:

Jéssica disse...

É verdade, às vezes algumas pessoas não encontram seu espaço no mundo. Algumas conseguem criar seu mundo e habitar nele, e consegue ser feliz, o que definitivamente é raro mesmo.

Adorei! *_*

Lucas Adonai disse...

Muito bom!

palavras ao vento disse...

interessante o texto bem escrito....

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Lua (:
Capricorniana, 19 anos, um tanto tímida porém de personalidade forte. Tem pés no chão e paradoxalmente idealiza o mundo e tem um tanto de fé nas pessoas. Adora admirar as coisas simples, e as valoriza muito mais do que as coisas "compradas". É apaixonada pela escrita e não poupa palavras para dar sua opinião. Acredita que palavras têm um poder imensurável; acredita também que pode trazer, assim, um pouco de felicidade às pessoas. Sonhos? Possui muitos, e tenta realizá-los. Dá tudo por seus amigos, luta por sonhos alheios também. Seu grande sonho profissional é cursar psicologia - profissão pela qual é apaixonada desde criança; outros sonhos seus são conhecer os amigos virtuais e viajar pelo mundo. Preza a sinceridade e a generosidade. Gosta de estudar, conhecer, ver. Se sensibiliza com histórias espontâneas, dramáticas e que possuam essência. A magia de um conto, de uma música, lhe dá arrepio. Ah, e tem uma paixão forte por retratar vidas alheias, seja como prosa, seja como poesia.
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Escrever é como uma necessidade, para mim. É um sonho particular levar alegria ou algo de bom para as pessoas. Aqui consigo expressá-los poetica ou até mesmo grosseiramente, mas tudo isso tem um propósito. O que eu desejo é que as pessoas se conscientizem das coisas e que não percam a fé umas nas outras... Tento trazer paz, tento trazer amor, além de reflexão; aqui mesmo, neste cantinho! Pode parecer inútil, mas já é uma grande coisa. Entre, fique à vontade para ler, curtir, criticar e se expressar!

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