domingo, 3 de abril de 2011

Esquecido pela própria morte

Era apenas uma noite fria desatada em choros; os gritos ecoavam pelo vazio, eram agonizantes e graves. Tudo isso em meio a uma floresta negra, com enormes árvores cercando o lugar que tanto amedrontava. Sentado entre a lama e uma cabana, estava o garoto que fazia o silêncio se romper; além dele, só se ouviam os ruídos de galhos se movimentando e, em alguns momentos, o vento uivante. Nem animais se via naquele lugar onde o menino se perdera – ou se achara.
O garoto tinha as duas mãos ocupadas: numa estava uma garrafa de vinho e noutra um cigarro, ambos já utilizados; ele estava bêbado, porém as palavras que ouvira momentos antes não o deixavam adormecer, nem sentir sono. Muita coisa aconteceu naquele dia, e desnorteado, o rapaz foi parar naquele lugar deserto que nem fazia ideia de como havia conseguido chegar.
“Eu odeio você, sua banda idiota, seus amigos infantis, seus fãs psicóticos. Odeio inclusive a mim, por ter estado com você por todo esse tempo. Odeio sua vida dispensável e frustrada, você é apenas mais um sociopata sonhador e idealista. Deixe-me em paz, para sempre.“ Essas foram as palavras proferidas por alguém a quem ele amou desde a infância, que cresceu com ele e sempre havia sido o amor de sua vida – ao menos era o que ele acreditava. Parecia insano que ele realmente tivesse ouvido tudo aquilo, mas ele mesmo acreditava em tudo o que ela dissera: ele se achava tudo aquilo, e tinha uma real e vigente frustração. Sua vida havia se tornado inútil, e ele já não conseguia levar alegria ou sentimento em sua música, pois estava vazio e insuscetível à própria dor. Ele havia perdido o amor pelas pessoas, por tudo o que conquistou... Sem exceções. Por último, perdeu sua amada. De que lhe valia viver? O gosto da emoção já não havia em sua essência, o sorriso que ele estampava era mais falso do que mercadoria informal. Sua vida se resumia ao passado, porque o resto estava morto, toda a sua vida de verdade se apagara, como uma simples chama que até o vento obscurece.
Naquele momento estonteante de lembranças, o rapaz tirou um papel do bolso e começou a ler freneticamente; estava certo do que queria fazer, e era o que já queria ter feito desde o início dessa sensação. Após completar a leitura, ele enfiou a mão no outro bolso e puxou uma arma prateada, de calibre desconhecido e disse “Estou indo para perto de ti, querido Kurt Cobain”. A cena que se seguiu foi extremamente dolorosa e violenta: o gatilho da arma foi puxado e rapidamente solto em direção à cabeça, e bastou apenas uma bala para que aquele indivíduo perdesse sua vida. A garrafa de vinho caiu e o vidro se partiu; tudo o que se via naquele lugar era vermelho: o vermelho do sangue, o vermelho do vinho.

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Lua (:
Capricorniana, 19 anos, um tanto tímida porém de personalidade forte. Tem pés no chão e paradoxalmente idealiza o mundo e tem um tanto de fé nas pessoas. Adora admirar as coisas simples, e as valoriza muito mais do que as coisas "compradas". É apaixonada pela escrita e não poupa palavras para dar sua opinião. Acredita que palavras têm um poder imensurável; acredita também que pode trazer, assim, um pouco de felicidade às pessoas. Sonhos? Possui muitos, e tenta realizá-los. Dá tudo por seus amigos, luta por sonhos alheios também. Seu grande sonho profissional é cursar psicologia - profissão pela qual é apaixonada desde criança; outros sonhos seus são conhecer os amigos virtuais e viajar pelo mundo. Preza a sinceridade e a generosidade. Gosta de estudar, conhecer, ver. Se sensibiliza com histórias espontâneas, dramáticas e que possuam essência. A magia de um conto, de uma música, lhe dá arrepio. Ah, e tem uma paixão forte por retratar vidas alheias, seja como prosa, seja como poesia.
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Escrever é como uma necessidade, para mim. É um sonho particular levar alegria ou algo de bom para as pessoas. Aqui consigo expressá-los poetica ou até mesmo grosseiramente, mas tudo isso tem um propósito. O que eu desejo é que as pessoas se conscientizem das coisas e que não percam a fé umas nas outras... Tento trazer paz, tento trazer amor, além de reflexão; aqui mesmo, neste cantinho! Pode parecer inútil, mas já é uma grande coisa. Entre, fique à vontade para ler, curtir, criticar e se expressar!

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